Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas!
Todas as vezes que decido escutar o meu coração, parece que ele resolve falar árabe comigo (ou será que sou eu que estou ficando surda?). Estou até as tampas de razão! Tomada de raciocinios lógicos e falas graves, tenho a impressão de que dentro de mim mora um juiz velhinho e severo, que me aponta o dedo dizendo que amar é coisa para os tolos, que vou me ferrar de novo. Como pode uma mulher guerreira e independente querer e sentir as mesmas coisas que as mulheres românticas?
Pois é, o tal velhinho vive às turras com um certo desconhecido, que ainda não sei muito bem quem é. Sempre o vejo de longe, parece que é esguio, às vezes alto e forte, às vezes nem tanto. Está sempre muito falante, com um sorriso no canto dos olhos, ainda que eu nunca me lembre de que cor eles são. Em alguns momentos sua presença é tão intensa que quase chego a sentir o seu cheiro. Um cheiro doce e familiar. Familiar? Como assim? Se eu nem o conheço...
Ele nunca lhe falta ao respeito com o juiz. Este, lhe aponta o dedo, branda aos quatro ventos suas leis e regras, agita os braços, abre os seus livros velhos e pesados e prova o quanto as suas teorias estão certas. O outro olha, sorri e acena com a cabeça, demonstrando total respeito pela sua sabedoria e experiência.
Com muita calma ele espera a sua vez para falar e a única coisa que ele carrega consigo é um papel todo amassado no bolso esquerdo da camisa listrada. Sua voz é doce, seus gestos são curtos, suas mãos seguram firme as palavras que ele outrora havia rasbicado. Ele se inclina em direção ao seu interlocutor para que esse possa lhe ouvir melhor. Convida-o para se sentar e tomar um café. O velhinho, desconfiado que só ele, olha-o por cima dos seus óculos e contesta dizendo que uma discussão como essa não se toma à goles de café nem à sombra de uma árvore.
O desconhecido lhe sorri e percebe que a coisa, a tal conversa, se dará por alí mesmo. Respira bem fundo, toma o banquinho de madera ao seu lado e se senta um pouco desajeitado. Suas pernas são longas, como as de quem ganha o mundo à carreiras...
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